segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Prazer em ler

Ler... talvez por fazermos parte de um mundo cheio de afazeres , repleto de atrativos e tantas tecnologias, deixamos de lado este hábito importantíssimo em nossa rotina diária, privilegiando leituras rápidas, mídias diferentes, acabamos esquecendo na estante as preciosidades que deveriam nos acompanhar no dia a dia.
 Livros são tesouros que estacionados em prateleiras ou servindo de objetos decorativos perdem o objetivo, perdem o sentido, perdem o valor e além do mais, com esta prática perdemos o mais importante, os benefícios que eles certamente nos darão se utilizados na sua essência.

Ao lermos aprendemos muito e passamos a ter acesso a tudo o que a humanidade produziu e registrou em todos os tempos e lugares. Quanto mais  livros lemos, mais palavras conhecemos e mais possibilidades temos para enfrentarmos com argumentos coerentes uma sociedade como a que vivemos, tornando-nos mais críticos e bem informados.
Com a leitura viajamos, nos envolvemos em fatos, imaginamos lugares, nos encantamos com personagens, descobrimos as maravilhas que as histórias nos proporcionam, aprendemos, nos informamos e nos atualizamos com tudo o que acontece no mundo .
Os livros devem fazer parte do universo infantil, formar leitores é uma tarefa que começa muito cedo, antes da alfabetização, as crianças, ouvindo histórias, vão povoando seu mundo imaginário, ampliando seus horizontes e aumentando sua capacidade de compreensão.
Ler é um gesto simples que deve ser incorporado na vida de toda pessoa. A melhor forma de aproximar uma criança da leitura é oferecer a ela o exemplo em casa. Pais leitores tendem a influenciar o comportamento futuro de seus filhos. Ler histórias para a criança é a melhor forma de incentivá-la à leitura, é ouvindo histórias que ela tem a primeira experiência com a linguagem literária e a partir daí passa a sentir prazer em navegar pelo mundo das palavras. Livros estimulam o desenvolvimento cognitivo, ampliam o vocabulário, a criatividade, a imaginação, a concentração e a atenção, despertam as sensibilidades e as emoções. Os pais são agentes responsáveis para iniciar seus filhos no caminho da literatura. Presentear crianças com livros e compartilhar a história aproxima a família, estreita laços de afeto e companheirismo, fortalece o relacionamento, diverte e amplia o aprendizado. As crianças se tornam leitoras no colo de seus pais, experiência esta que ficará para sempre guardada na memória afetiva de cada uma delas. Se quisermos que a leitura, as histórias e o maravilhoso mundo da imaginação se tornem parte integrante da vida, devemos ler cedo, ler frequentemente e só assim os livros serão valorizados pela vida inteira trazendo inúmeros benefícios, o mundo terá mais sentido, será mais claro e compreensível. Quem gosta de ler tem nas mãos as chaves do mundo.
 A escola tem papel importantíssimo nesta prática, brincar com palavras, ouvir histórias, mergulhar nos contos fantásticos ... as delícias do texto encontram-se na fala do professor. A escola deve oportunizar situações que motivem as crianças: o cantinho da leitura, visitas à biblioteca, a hora do conto, o momento da troca de experiências e de ideias, neles o professor despertará o desejo de ler e em grupo, estarão desenvolvendo esta ação como prática social: partilhar, ouvir, participar, compreender e interpretar. A leitura, inserida na rotina diária da criança oportunizará motivação para a escrita, pois quem lê bem consequentemente escreve bem.
Leitura é para todos, independente da idade de cada um. O estímulo está na infância, mas podemos desenvolver este hábito a qualquer momento e em qualquer lugar. Quem tem um livro ao seu lado nunca está sozinho.


Sueli Filomena Marchetti Zaparolli é Pedagoga e Coordenadora Pedagógica da Educação Infantil e Ensino Fundamental do Colégio Luiza de Marillac - Santana - São Paulo

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

O Brincar

Brincar é o principal modo de expressão na infância. Brincando a criança aprende, cria, recria e repensa os acontecimentos, despertando para si um mundo repleto de sentimentos e afetividade.
Ao brincar a criança se depara com um universo de descobertas que promove o desenvolvimento sensorial e das habilidades motoras, estimulando a cognição, a socialização e a comunicação.
               
Através do lúdico acontece a experiência prática, o faz-de-conta a transporta para um mundo imaginário e neste momento ela transforma a realidade interagindo com o meio tornando-se mais habilidosa ao lidar com o real a partir do imaginário, traduz sua vivência em gestos, palavras e ações, imagina ser o que ainda não é e transborda de alegria ao fazer imitações e perceber que é notada por tudo que cria e fantasia. Criatividade não lhe falta, é capaz de dar vida a tudo com autenticidade e simplicidade, busca nos personagens ídolos que muitas vezes se tornam modelos para a própria vida.
Brincar é um direito na infância, uma ação fundamental no processo educativo, permite o exercício contínuo do conhecer, desenvolvendo competências amplas relativas ao mundo, estimulando o desenvolvimento da aprendizagem.
Na escola, a brincadeira desperta o interesse, ensina conceitos, valores, regras e promove o aprender de forma dinâmica.
O jogo dirigido ou a brincadeira espontânea tem um valor enorme no desenvolvimento e na aprendizagem, ajudam a criança a conhecer o mundo que a cerca através das interações e das descobertas, o brincar coletivo auxilia na concentração, na percepção e no levantamento de hipóteses. Num mundo onde predominam o individualismo e a competividade um dos maiores desafios da educação consiste em ensinar a compartilhar, a viver junto e muitas vezes a escola é o único local onde ela pode realizar o seu brincar coletivo.
O papel da família é fundamental na hora do brincar, quando os pais brincam com os filhos, estabelecem vínculos fazendo com que a criança sinta-se mais acolhida e segura favorecendo as relações.
Brincar é muito importante, seja em casa, na escola, no parque ou em  qualquer outro local, enquanto a criança brinca troca experiências e ao trocar experiências cresce e se desenvolve.
Brincar com outras crianças, além de prazeroso conduz ao convívio social, aprimora as relações interpessoais, bem como a capacidade de agir com autonomia.
Brincadeira para a criança tem sentido próprio, assim deve ser repleta de divertimento e muita alegria.
Brincar por brincar, brincar sozinha ou brincar em grupo, a criança transforma o mundo ao seu redor, aprende sobre si mesma reconhecendo-se como autora da própria criação.

Sueli Filomena Marchetti Zaparolli é Pedagoga e Coordenadora Pedagógica da Educação Infantil e Ensino Fundamental do Colégio Luiza de Marillac - Santana - São Paulo

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A Escola e a cultura do sedentarismo

A longevidade do ser humano vem sendo, há décadas, objeto de estudo da ciência. O grande objetivo é que o indivíduo possa viver cada vez mais e melhor.
A partir do conhecimento adquirido ao longo do tempo, ampliou-se a consciência de que essa sobrevida com qualidade depende, em grande parte, de um conjunto de ações adotadas pelo próprio indivíduo ao longo de sua vida.
Nesse sentido, sem sombra de dúvida, são fatores determinantes a alimentação e a chamada vida ativa.
Ocorre que, com o passar do tempo e a evolução tecnológica, o que se observa é exatamente o contrário, ou seja, as pessoas, de modo geral, vêm se alimentando de maneira cada vez mais inadequada e, mais que isso, levando uma vida cada vez mais inativa.  
Essa observação se torna mais preocupante quando se constata que esses fatores que, em última análise, são limitantes à vida, vêm atingindo o ser humano em faixas etárias cada vez menores.

Especificamente em relação à inatividade ou, em outras palavras, à vida sedentária, o que se observa é que já em idade escolar, um número considerável de pessoas começa a demonstrar pouco apreço pela atividade física. É bastante comum, em conversas com adolescentes no colégio, ouvirmos relatos de que passam boa parte do dia dormindo, ficando a prática de atividade física restrita às aulas de Educação Física, isto quando delas participam.
A constatação óbvia é a de que a menor solicitação de esforço físico proporcionada pela chamada vida moderna foi determinante para a mudança de estilo de vida das pessoas, ao longo do tempo, criando um fenômeno chamado “cultura do sedentarismo” o que adquiriu tal vulto e, em amplitude mundial, que passou a ser considerado pelos órgãos que estudam a saúde, em esfera nacional ou internacional (Organização Mundial de Saúde, por exemplo), como problema de saúde pública, chegando a receber o “título” de “mal do século” (século XX), pois, sabe-se que é fator determinante para o surgimento ou agravamento de doenças que afetam grandemente a qualidade de vida tais como o diabetes, a hipertensão arterial, doenças cardiovasculares (que foram as responsáveis pelo maior numero de mortes ocorridas no século XX, em âmbito mundial), a obesidade e alguns tipos de câncer.
Considerando esse problema (o sedentarismo) que, por suas características, atinge o ser humano cada vez mais precocemente e que, claramente, envolve risco futuro não só à qualidade de vida, mas, à própria vida, entendemos que, desde cedo se devem adotar ações no sentido de combater a chamada cultura do sedentarismo ou, em contraponto, enfatizar, valorizar a cultura do movimento.
A família tem papel fundamental, pois, sabe-se, por exemplo, que filhos de pais que possuem o hábito de praticar atividade física, têm uma maior probabilidade de também serem praticantes.
A escola, de maneira geral e a disciplina de Educação Física, de modo específico também devem se envolver nessa luta, adotando ações que levem os alunos a adquirirem consciência sobre a importância da prática do movimento na busca da longevidade e da qualidade de vida.
Torna-se fundamental que se atue no sentido de desenvolver e aprofundar, junto aos alunos, conhecimento sobre o movimento nas suas mais variadas vertentes culturais como as danças, as lutas, o esporte, a ginástica, a recreação, etc.
É essencial, também, que se utilize a prática de atividade física de maneira inclusiva, combatendo preconceitos, desenvolvendo o respeito às diferenças e assim, facilitando e desenvolvendo as relações humanas.
Mas, até em função de todos esses aspectos, é fundamental que a prática do movimento seja valorizada, não apenas nas aulas de educação física, mas, no ambiente e na rotina escolar como um todo, não, obviamente, com a perspectiva da busca de alto rendimento, mas, no sentido de que se incorpore à rotina da escola, a cultura do movimento e também, de que se amplie e se desenvolva o chamado repertório motor dos alunos.
Não se trata de preconizar o desenvolvimento motor como único objetivo da escola, através, sobretudo da disciplina de Educação Física, mas, que seja um deles, pois, é notório que se sinta prazer quando se executa algo que se entende fazer bem feito e, é também evidente que se torna mais fácil transformar em hábitos, práticas que tragam prazer.

Partindo destas premissas, ao trabalhar no sentido de ampliar e desenvolver o repertório motor dos alunos, e de incorporar a prática da atividade física à sua rotina diária a escola e, obviamente, a disciplina de Educação física estará criando condições favoráveis ao desenvolvimento da referida “cultura do movimento” instrumentalizando-os, assim, no sentido de incorporarem à sua vida, práticas que, por serem fontes de prazer, terão maior possibilidade de se tornarem hábito o que, em longo prazo, para além do prazer, irá proporcionar melhor qualidade de vida e maior perspectiva de longevidade.

Prof. Clovis Coltre é Graduado em Educação Física pela USP e professor do Colégio Luiza de Marillac - Santana - São Paulo

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Sim, nós podemos!

Se nossa existência tivesse um nome, o sobrenome certamente seria mudança. Heráclito, filósofo grego e pai da dialética, disse: “Nada há de permanente exceto a mudança”. Se para você essa afirmação está mais para uma sensação, creio então que em muito pouco tempo se tornará uma certeza, mesmo crendo na relatividade dela, pois essa mesma certeza sofrerá mudanças e assim, não será mais ela mesma. Não é como nos sentimos? Mudando a cada novo dia?
Na sociedade moderna a velocidade é a mola propulsora de todas as transformações e aquela que nos leva a agirmos, muitas vezes, como nossos ancestrais, movidos apenas pelo instinto de preservação deixando tudo ao nosso entorno menos importante, supérfluo tornando-nos seres individualistas. À margem de tudo aquilo que essa “sociedade veloz” impõe como prioritário temos tantas coisas, inclusive nossos atos, aqueles mesmos que deveriam nos diferenciar das outras espécies.

Somos “animais” sociais, nossa essência é a da convivência, mas podemos dizer com tranquilidade que hoje vivemos com o outro? Sabemos quem é ou nos importamos com ele? Atingimos a marca de sete bilhões de pessoas vivendo no planeta; pergunto: quem é esse tal de outro mesmo? Ele pode ser tanta gente, pode ser alguém que não conhecemos, nos encontramos ou sequer que venhamos a encontrar. Mas devemos nos preocupar com ele por uma simples razão, temos que conviver com “ele”.
Hoje, com uma pitada de exagero, nosso melhor amigo é aquele telefone esperto que faz tudo. Chegamos a lançar desafios com o objetivo das pessoas ficarem um determinado tempo sem usar a tecnologia - foi notícia em um portal da internet - mas devo admitir, é complicado vivermos sem ela. É, nosso modo de vida mudou! Na era do conhecimento, a tecnologia tem papel fundamental nos avanços da humanidade, entretanto, por outro lado, se não voltarmos nossa atenção a todo o conteúdo desse pacote e às letras miúdas desse contrato, corremos o risco de “mudarmos” cada vez mais, para bem distante daquilo que realmente somos.
Se nos aflige sentir tais coisas sobre nosso atual modo de vida, o que nos resta? Sentar e ver onde e como estaremos vivendo daqui a dez anos? Precisamos tentar, nos engajar no propósito de mudar essas relações. A antropóloga Norte-Americana Margaret Mead disse: “Nunca duvide de que um pequeno grupo de cidadãos conscientes e engajados consiga mudar o mundo. Na verdade, essa é a única via que conseguiu produzir mudanças até agora”.
Sim, nós podemos! O desejo de mudar nasce dentro da gente, esse é um dos grandes poderes que temos. Outro poder, o de acreditar nos torna capazes de fazermos acontecer além de nos fortalecer e nos manter firmes na busca das mudanças que queremos. Como disse Gandhi, “Devemos ser a mudança que queremos ver no mundo”.
Para passarmos de uma determinada situação social para outra melhor é necessário que as desejadas mudanças comecem em cada um de nós expandindo-se para nossa família, nossos vizinhos e assim de forma espiral para os demais elos de nossas relações.
A cultura de paz é um processo norteado pelo uso e fortalecimento das relações, do diálogo, da confiança e do respeito, dando-nos nova forma de pensar, fazer e viver. Fortalece as relações porque precisamos conviver, e o convívio nada mais é do que o viver no mesmo lugar com outra pessoa. Fortalece o diálogo, pois necessitamos nos comunicar para sermos compreendidos e compreender o outro, sendo este o mediador de conflitos e de superação dos problemas advindos das relações humanas, fazendo surgir novos espaços para a troca de experiências e compartilhamento dos conhecimentos acumulados por cada um de nós, gerando assim, novas competências aos envolvidos no processo.
Nas escolas, a cultura de paz tem espaço privilegiado, pois, alinhando-se às propostas pedagógicas fará de cada uma delas polos irradiadores das mudanças que desejamos ver no mundo.
“Joaquim, pergunta ao seu pai Henrique: Você precisa deixar a torneira aberta enquanto se barbeia? Na aula de ciências a professora me disse que está faltando água em muitas partes do mundo e que há mais de 1 bilhão de pessoas em dificuldades por falta de água doce. Ela também disse que um banho demorado gasta 95 a 180 litros de água, e que escovar os dentes com a torneira aberta consome 25 litros. Quanto você já gastou hoje, hein pai?”  A história mostra como a escola teve um papel fundamental para que Joaquim confrontasse os hábitos do pai demonstrando novos conceitos, habilidades e valores, tornando-se capaz de pensar nos outros e não somente, em suas necessidades individuais.
Esses outros para os quais estão voltados os olhares do Joaquim têm maneiras peculiares de entender, olhar e estar no planeta, muitas vezes diferente das dele e está aí, na diversidade, a possibilidade de crescimento pessoal, de mudarmos do modelo mental enraizado na sociedade de individualismo para um modelo de cultura colaborativa. Trata-se de propormos a nós mesmos, novos hábitos comportamentais e de nos colocarmos no mundo de forma diferente.
Mudar, apesar de fazer parte de nossa existência, não é uma tarefa fácil, mas se continuarmos parados, sem pensarmos ou agirmos, estaremos indo contra tudo que nos faz diferentes.  Que tal acreditarmos e vivermos a cada novo dia buscando um melhor desenvolvimento como pessoas humanas, seres sociais e que acreditam na cultura de paz.
Nós podemos, sim!

Prof. Luis Fernando Bronzatto é Licenciado em Educação Física, Pedagogo e Diretor do Colégio Luiza de Marillac – Santana – São Paulo.

sábado, 29 de setembro de 2012

Língua respeitada pela inclusão?

Somos todos iguais? Estamos incluídos de verdade no mundo? Por que somos incluídos? Segundo divulgado pela Discovery , “todos somos iguais e na realidade, as diferentes raças humanas se tornam algo superficial já que todos nós viemos do mesmo lugar e possuímos um laço familiar com uma mulher. A razão pela qual nos vemos diferentes uns dos outros se deve às diferenças ambientais e à mudança de nossa pele e cultura no decorrer dos anos... contudo, somos todos iguais”. Como estamos em época de mudança principalmente, no âmbito da educação e pensando na legislação vigente, sabemos que a educação é para todos. A discussão e a implementação da política de inclusão na área educacional têm se intensificado e representam a obrigatoriedade de uma escola inclusiva. Essa política se preocupa como o acesso e permanência do aluno com necessidade educacional especial dentro da escola com outros alunos. Sabemos que há diferença entre Inclusão Social e Educação inclusiva. Segundo consta na Wikipédia, “a inclusão social é um conjunto de meios e ações que combatem a exclusão aos benefícios da vida em sociedade provocada pela falta de classe social, origem geográfica, educação, idade, existência de deficiência ou preconceitos raciais, oferecendo aos mais necessitados oportunidades de acesso aos bens e serviços, dentro de um sistema que beneficie a todos e não apenas aos mais favorecidos no sistema meritocrático em que vivemos”. Já a educação inclusiva é um processo em que se amplia a participação e acesso ao currículo de todos os estudantes nos estabelecimentos de ensino regular. Infelizmente temos constatado que a maioria das escolas ainda não está preparada para receber todos os alunos com suas necessidades específicas, principalmente os Surdos, por serem sujeitos que têm sua própria língua, conhecida como LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais, oficializada como língua oficial do Brasil, pela lei nº 10.436, regulamentada no dia 24 de abril de 2002. Este ano, a Comunidade Surda comemora dez anos da promulgação da lei que oficializou a LIBRAS como língua oficial do Brasil. Acreditamos que para terem um melhor desenvolvimento nos anos iniciais de escolarização, os Surdos deveriam começar pela escola bilíngue para Surdos, onde podem adquirir LIBRAS como sua primeira língua e português como segunda na modalidade escrita. Assim, os Surdos conseguem se adaptar à educação inclusiva com a presença de um Tradutor Intérprete de LIBRAS/Língua Portuguesa e segundo o Decreto nº 5.626 de 2005, cria a obrigatoriedade de incluir LIBRAS como disciplina em alguns cursos universitários e intérpretes nos locais, como salas de aula, onde há Surdos no meio dos ouvintes.
Hoje, há poucos colégios particulares preparados para receber os Surdos onde tenham intérpretes de LIBRAS e professores bilíngues. Entretanto, a experiência do Colégio Luiza de Marillac trouxe muitas novidades para a Comunidade Surda, quando inclui LIBRAS como disciplina no currículo do 9º ano do Ensino Fundamental e em todas as séries do Ensino Médio, para que os alunos ouvintes aprendam LIBRAS, com um professor Surdo, como condição básica e de respeito na interação com a Comunidade Surda e com os colegas Surdos do colégio. Neste momento, há oito alunos Surdos matriculados no Ensino Médio. O colégio oferece curso livre de LIBRAS para professores, funcionários e toda a comunidade educativa, como pais e familiares, ministrado por um professor Surdo. Para nós Surdos, exemplos como o do Colégio Luiza de Marillac podem e devem ser seguidos pelas escolas brasileiras. Tenho muito orgulho de fazer parte deste projeto inovador. 

Tiago Codogno Bezerra é Surdo, Formado em Pedagogia, Letras-Libras e professor do Colégio Luiza de Marillac – Santana – São Paulo

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Existem razões para acreditar...



Há algum tempo atrás, uma propaganda de refrigerante na televisão me chamou atenção, acredito que a sua também. Crianças cantavam a música Whatever da banda de rock Inglesa Oasis, enquanto informações de um estudo comparativo sobre o mundo atual desfilavam sobre as imagens. A primeira comparação era “para cada pessoa dizendo que tudo vai piorar, cem casais planejam ter filhos”, em seguida, “para cada corrupto, há oito mil doadores de sangue”. Você se lembra dela, não é mesmo? Existem razões para nos preocuparmos com o presente e com o futuro, não há a menor dúvida. Por tudo que vemos acontecer no mundo, no nosso país, em nossa cidade, na vizinhança de casa, na escola de nossos filhos. Há pessoas que ainda são escravizadas e crianças obrigadas a trabalhar em carvoarias clandestinas. Na Amazônia Brasileira 312 km2 de florestas foram desmatadas, e isso somente no mês de junho deste ano. Recentemente, mãe e filho foram vítimas de balas perdidas nas ruas do Rio de Janeiro enquanto iam para a escola. Também existem razões para termos esperanças com o presente e com o futuro. Hoje, o Estado de São Paulo doa para outros estados o excedente de córneas captadas em seus hospitais, a expectativa de vida dos brasileiros chegou a 73,2 anos e na última década, a mortalidade infantil recuou de 30,7 para 22,5 em cada 1.000 crianças nascidas. Em nossa sociedade, os avanços são lentos - estando ainda distantes de índices de primeiro mundo - mas estão acontecendo. Vejam, somente em 1990 foi promulgado o Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1996, após vinte e cinco anos a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional foi atualizada. Ações de voluntariado existem desde sempre e apenas em 2001, por iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU), estabelece-se aquele ano como o ano internacional do voluntariado com o objetivo de aumentar o reconhecimento, a facilitação, a criação de redes e a promoção do serviço voluntário. Qual é a relação entre adolescentes, educação e voluntariado? Seria energia, condutor e catalizador, ou quem sabe agentes, meio e conteúdo? O que acontece quando esses “ingredientes” interagem? O resultado é “voluntariado educativo”! Uma proposta de voluntariado diferente daquele do adulto, formulada por dois sociólogos italianos onde a ação solidária preocupa-se com a formação dos jovens num espaço de ação e reflexão, de aprendizado sociopolítico, desenvolvimento de senso crítico, conscientização sobre direitos sociais e humanos, de respeito às diferenças e de vivência da solidariedade. 

Nesse espaço de ação e reflexão temos, juntos, o jovem passando pelo momento de construção de sua identidade, de crescimento humano e espiritual, de busca de sentido à própria vida e de valores nas suas atitudes e comportamentos, a escola, a partir de seus princípios educacionais, servindo como orientadora dos caminhos e escolhas desse jovem, oferecendo-lhe referências que facilitem a definição de seus próprios projetos e o voluntariado educativo como alternativa de busca, dentro de si mesmos, as suas melhores possibilidades. No vídeo do Instituto Brasil Voluntário – Faça Parte – com foco principal em ações de voluntariado educativo e idealizador do Selo Escola Solidária – há relato de um jovem aluno participante do voluntariado educativo que, no meu entendimento, ilustra o potencial e diferencial dessa proposta. Disse ele: “não sei o que seria de mim sem o trabalho voluntário; não dá para dizer, mas tão feliz como sou, eu não seria com certeza”. A maioria de nós vê o voluntário como alguém que ajuda a terceiros e, indiscutivelmente o ajuda, entretanto os benefícios que o jovem voluntário traz a si próprio são muito maiores. Maiores porque marcam, transformam, ficam. Apostar no voluntariado educativo e acreditar nessa nova tecnologia social é dever de todos nós educadores, pois oportunizaremos aos nossos jovens situações onde estes aparecem como atores principais em ações que não dizem respeito à sua própria existência, mas a problemas relativos ao bem comum – dentro da escola ou na sociedade – materializando-se nessas ações, tudo aquilo que dá sentido a nossa humanidade e que faz toda a diferença. O educador Celso Antunes escreveu certa vez, “O mundo não seria o mesmo se não tivessem existido pessoas que fizeram a diferença, pessoas extraordinárias”. Acreditar nos jovens e que estes possam se transformar em pessoas extraordinárias e que façam a diferença é um dos papéis da escola. Ah, sim, lembra aquela propaganda de refrigerante? Ela termina com a frase: “Existem razões para acreditar. Os bons são maioria”. Eu acredito! 

Prof. Luis Fernando Bronzatto é Licenciado em Educação Física, Pedagogo e Diretor do Colégio Luiza de Marillac – Santana – São Paulo.